terça-feira, 13 de maio de 2025

Feira do Livro


Está a decorrer  a Feira do Livro de 13 a 22 de maio, na Biblioteca Escolar.

Visita-nos. Estamos à tua espera!







quarta-feira, 30 de abril de 2025

Concurso Literário Dr. João de Barros

Aluna Premiada 

Categoria A (2.º Ciclo):

 Maria Rodrigues – n.º 20, turma 6.º1, Escola Básica João de Barros


Oceanos de Emoções

 

A Amélia adorava o mar. Desde pequena que sentia uma ligação com as ondas, como se estas lhe sussurrassem segredos antigos. O seu nome não fora escolhido ao acaso. Os seus pais batizaram-na assim em homenagem à Rainha Amélia de Portugal, uma figura nobre e marcante da história do país. Embora a rainha não fosse especialmente conhecida pelo seu amor ao mar, o seu nome ficou ligado às águas através do Iate Real “Amélia”, uma embarcação usada pela família real. Sempre que pensava nisso, a Amélia sentia que, de alguma forma, o oceano também fazia parte da sua identidade.

O avô da Amélia, um velho pescador, adorava contar-lhe histórias sobre os navegadores que exploraram oceanos desconhecidos, enfrentando tempestades e mares perigosos para descobrir novos lugares. Mas havia uma história que ele gostava de repetir mais do que todas as outras: a de Luís de Camões, o famoso poeta que escreveu sobre o mar como ninguém.

O avô dizia que, para Camões, o mar não era só um cenário nos seus poemas, mas algo vivo, cheio de mistérios e aventuras. O poeta viajou por mares cheios de perigos, sobreviveu a naufrágios e enfrentou tempestades assustadoras. Depois, escreveu sobre tudo isso nos seus poemas, como se quisesse que as suas palavras ficassem para sempre nas ondas. O avô falava com tanta emoção que parecia conseguir ver, através do tempo, as viagens e desafios que Camões tinha vivido.

Ela adorava ouvir essas histórias, e o mar tornava-se ainda mais especial ao pensar que este escondia segredos de navegadores e poetas. Mas nunca imaginou que, um dia, seria ela a viver uma dessas histórias.

Era uma tarde de outono e o céu estava coberto de nuvens pesadas e escuras. A Amélia caminhava pela praia deserta, sentindo os seus pés afundarem-se na areia fina e húmida. O vento soprava forte, e as ondas rebentavam com uma força incomum. Foi então que algo lhe chamou a atenção. No meio da areia molhada, meio enterrado, estava um velho livro de capa grossa, desgastada pelo tempo. A capa escura estava decorada com letras douradas, onde se podia ler com clareza: “Os Lusíadas”.

Pegou nele com cuidado, limpou os grãos de areia e abriu a primeira página. Assim que o fez, um arrepio percorreu-lhe a espinha. Algo naquele livro parecia diferente...como se tivesse vida própria. As palavras moviam-se ligeiramente, dançando ao ritmo das ondas que rebentavam na praia. A Amélia passou os dedos sobre as letras, e, nesse instante, sentiu um puxão forte, como se fosse sugada pelo próprio livro. O mundo à sua volta dissolveu-se num turbilhão de espuma e vento.

Quando abriu os olhos, já não estava na praia. Estava num navio. O cheiro a sal e a madeira molhada invadiu-lhe os sentidos. Marinheiros de roupas antigas corriam de um lado para o outro, puxando cordas e ajustando as velas. O barco balançava violentamente sobre ondas gigantescas, e trovões ressoavam no céu escuro. A Amélia tentou mover-se, mas sentia-se tonta e desorientada. Foi então que viu um homem de olhar profundo, barba espessa e uma expressão determinada.

Ele segurava um livro contra o peito como se aquele fosse o seu bem mais precioso. Não podia ser verdade. Estava no século XVI, no meio de uma tempestade a bordo de um navio que enfrentava a fúria do oceano, ao lado do poeta mais famoso de Portugal. Camões estreitou os olhos ao vê-la ali, no meio do convés molhada pela tempestade.

- Quem és tu? Como vieste aqui parar? Perguntou, segurando o livro contra o peito, intrigado com a presença inesperada da menina.

A Amélia sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo. O vento forte, o cheiro a sal o barulho das ondas a bater no casco do navio... tudo parecia real de mais para ser um sonho. Mas como poderia explicar aquilo? Como dizer a Luís de Camões que, momentos antes, estava numa praia do futuro e agora estava ali, no seu navio, no meio de uma tempestade?

- O meu nome é Amélia, mas... eu não faço ideia de como vim aqui parar! Conseguiu responder ainda ofegante.

Camões franziu a testa, sem desviar o olhar dela.

- Perdeste-te no mar? Caíste de alguma embarcação?

A Amélia abanou a cabeça tentando encontrar sentido naquilo tudo.

-  Não! Eu estava na praia... encontrei um livro... o seu livro! – apontando para o exemplar de “Os Lusíadas”, que o Camões segurava. - Toquei nele e ... houve um clarão! Como se uma onda me tivesse engolido... e, de repente acordei aqui!

O poeta ficou em silêncio por um instante. Observava-a com curiosidade, mas sem medo, como se já tivesse ouvido histórias tão fantásticas quanto aquela. Depois, um sorriso leve surgiu no canto dos seus lábios.

-  O mar tem segredos que poucos compreendem. – disse, num tom enigmático. – Talvez te tenha trazido até mim porque precisas de ouvir a sua história...ou talvez, porque ele tenha decidido contar-te a tua própria história.

Antes que a Amélia pudesse responder, um estrondo fez o navio tremer. Uma onda monstruosa ergueu-se à frente deles, ameaçando engolir o barco inteiro. Os marinheiros gritaram e agarraram-se ao que puderam. O coração da Amélia batia descontroladamente. Mas Camões manteve-se firme.

- Não temas! vi o mar desafiar os mais corajosos, mas também sei que ele guarda surpresas boas.

A tempestade rugia à volta deles, mas as palavras do poeta tinham uma força estranha, quase mágica. No instante seguinte, a onda desabou sobre o navio, e tudo se apagou.

A Amélia acordou com o rosto molhado. Estava deitada na areia da praia, e o sol começava a espreitar entre as nuvens. O seu coração ainda batia acelerado. Sentou-se devagar, tentando recuperar o fôlego, e olhou para as mãos.

O livro ainda lá estava. Abriu-o com pressa e folheou as páginas rapidamente. Tudo parecia normal, os versos estavam como deviam estar... até que os seus olhos se fixaram numa estrofe que nunca tinha lido com verdadeira atenção antes. O coração começou a bater mais rápido ao reconhecer as palavras de Camões, como se agora fizessem um sentido completamente diferente:

“Por mares nunca de antes navegados, / Passaram ainda além da Taprobana.”

Ela leu a frase várias vezes. Sentiu um calafrio ao perceber que, de certa forma, também ela tinha atravessado mares desconhecidos, viajado além do que algum dia imaginara ser possível.

Fechou o livro devagar e olhou para o horizonte. O mar agora estava calmo como se tivesse cumprido o seu papel. Talvez tudo tivesse sido um sonho...ou talvez, naquele dia, o oceano tivesse escolhido contar-lhe um dos seus segredos.



Trabalho realizado por: Mariçaí