De 1570 para
2014
Camões visitou
a nossa escola – 21de março
Os génios não morrem, imortalizam-se. E Luís de Camões esteve
de novo entre nós, na Escola E.B. 2,3 Dr. João de Barros. Chegou-nos na
companhia do Professor Doutor José Bernardes.
A palestra, dirigida a alunos do 8.º e do 9.º ano, guiada pela
imensa sabedoria do diretor da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra,
levou a assistência por caminhos de outros tempos…
Começou por referir aspetos de ordem prática e quotidiana
relacionados com a arte da escrita.
O papel, tão distante da brancura e da lisura do de hoje, no
qual não seria nem fácil nem rápido escrever …
A tinta, não a azul ou preta, tão comuns nos nossos dias, mas aquela,
de cor sépia…
A pena, frequentemente de ganso…
Continuando a viajar nas sapientes palavras do professor, eis
que olhamos Camões regressando à pátria, no desembarque em Cascais, Lisboa. O
ano é 1570. Trá-lo a nau Santa Clara, de 16 anos de um Oriente longínquo e
atribulado. Vem com o seu criado, Jau. O que traria na bagagem? Nesse objeto
mágico, um baú, estavam decerto papéis e papéis …, o manuscrito da epopeia.
Talvez muitas mais do que as 1102 estâncias que compõem o grandioso poema.
Estaria alguém à sua espera? Na perspetiva do nosso cicerone
nesta viagem no tempo, só poderia ser a mãe, Ana de Macedo.
Já com o poeta “em casa”, foi tempo de o olhar e de o entender
melhor, de pensar em algumas fragilidades. Camões antecipara um futuro que
acabou por não se cumprir.
Em Os Lusíadas não encontramos um herói completo, mas alguns
próximos do heroísmo. É como se Camões tivesse desenhado uma moldura de
heroísmo, dentro da qual quis colocar várias pessoas e nenhuma lá coube de
forma completa. Para o poeta, o verdadeiro herói seria aquele rei-menino, a
quem dá conselhos, a quem pede para evitar erros, que liberte a terra do jugo
dos mouros, a quem sugere que abandone a rota das especiarias e se vire de novo
para África, para voltar a fundar Portugal – conselhos ao rei em1572.
Com um exército de 18000 homens (portugueses, franceses,
espanhóis, alemães), em 1578 D.Sebastião parte para África, Marrocos, para não
mais voltar…
O pesar que Camões terá sentido não é difícil de adivinhar.
Ainda assim, os laivos de derrota não anulam a grandiosidade
da obra. O que significa ela, então?
Editados há 450 anos (1572), provavelmente com cerca de 200
exemplares (de que hoje se conhecem apenas 26, em todo o mundo – um deles está
abrigado na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra), pelo Tipógrafo
António Gonçalves, Os Lusíadas é a 1.ª epopeia escrita na língua vernácula. A obra
retrata glórias e fracassos de uma comunidade inteira. Aplica-se ao nosso
presente e há de aplicar-se ao nosso futuro. Digamos que é o retrato de
Portugal exposto numa parede.
Escrita a epopeia, o género mais nobre, em português, faz com
esta língua se emancipe, deixe de ser apenas uma língua de comunicação entre as
pessoas comuns.
E ficou o seu autor na galeria dos que
“se vão da lei da morte libertando”, apesar da peste que fez a sua alma
soltar-se da “misérrima prisão” em 1580.
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Quem esteve com todos os sentidos alerta, pôde perceber um
vulto (literário) saindo pela porta…
Era Camões despedindo-se…
Volta qualquer dia…
(Saiu, também ele, grato pelas palavras,
sempre cordiais, do nosso caro amigo, professor José Augusto Bernardes).
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