quinta-feira, 27 de março de 2014


De 1570 para 2014

Camões visitou a nossa escola – 21de março

 

Os génios não morrem, imortalizam-se. E Luís de Camões esteve de novo entre nós, na Escola E.B. 2,3 Dr. João de Barros. Chegou-nos na companhia do Professor Doutor José Bernardes.

A palestra, dirigida a alunos do 8.º e do 9.º ano, guiada pela imensa sabedoria do diretor da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, levou a assistência por caminhos de outros tempos…

Começou por referir aspetos de ordem prática e quotidiana relacionados com a arte da escrita.

O papel, tão distante da brancura e da lisura do de hoje, no qual não seria nem fácil nem rápido escrever …

A tinta, não a azul ou preta, tão comuns nos nossos dias, mas aquela, de cor sépia…

A pena, frequentemente de ganso…        

Continuando a viajar nas sapientes palavras do professor, eis que olhamos Camões regressando à pátria, no desembarque em Cascais, Lisboa. O ano é 1570. Trá-lo a nau Santa Clara, de 16 anos de um Oriente longínquo e atribulado. Vem com o seu criado, Jau. O que traria na bagagem? Nesse objeto mágico, um baú, estavam decerto papéis e papéis …, o manuscrito da epopeia. Talvez muitas mais do que as 1102 estâncias que compõem o grandioso poema.

Estaria alguém à sua espera? Na perspetiva do nosso cicerone nesta viagem no tempo, só poderia ser a mãe, Ana de Macedo.

Já com o poeta “em casa”, foi tempo de o olhar e de o entender melhor, de pensar em algumas fragilidades. Camões antecipara um futuro que acabou por não se cumprir.

Em Os Lusíadas não encontramos um herói completo, mas alguns próximos do heroísmo. É como se Camões tivesse desenhado uma moldura de heroísmo, dentro da qual quis colocar várias pessoas e nenhuma lá coube de forma completa. Para o poeta, o verdadeiro herói seria aquele rei-menino, a quem dá conselhos, a quem pede para evitar erros, que liberte a terra do jugo dos mouros, a quem sugere que abandone a rota das especiarias e se vire de novo para África, para voltar a fundar Portugal – conselhos ao rei em1572.

Com um exército de 18000 homens (portugueses, franceses, espanhóis, alemães), em 1578 D.Sebastião parte para África, Marrocos, para não mais voltar…

O pesar que Camões terá sentido não é difícil de adivinhar.

Ainda assim, os laivos de derrota não anulam a grandiosidade da obra. O que significa ela, então?

Editados há 450 anos (1572), provavelmente com cerca de 200 exemplares (de que hoje se conhecem apenas 26, em todo o mundo – um deles está abrigado na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra), pelo Tipógrafo António Gonçalves, Os Lusíadas é a 1.ª epopeia escrita na língua vernácula. A obra retrata glórias e fracassos de uma comunidade inteira. Aplica-se ao nosso presente e há de aplicar-se ao nosso futuro. Digamos que é o retrato de Portugal exposto numa parede.

Escrita a epopeia, o género mais nobre, em português, faz com esta língua se emancipe, deixe de ser apenas uma língua de comunicação entre as pessoas comuns.

E ficou o seu autor na galeria dos que “se vão da lei da morte libertando”, apesar da peste que fez a sua alma soltar-se da “misérrima prisão” em 1580.

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Quem esteve com todos os sentidos alerta, pôde perceber um vulto (literário) saindo pela porta…

Era Camões despedindo-se…

Volta qualquer dia…

(Saiu, também ele, grato pelas palavras, sempre cordiais, do nosso caro amigo, professor José Augusto Bernardes).


 

 

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