terça-feira, 30 de abril de 2024

Concurso Literário Dr. João de Barros

 1.ª Menção Honrosa Escalão B

Luís Figueiredo, n.º13, 9.º A - Escola Básica João de Barros


Uma Viagem no Tempo

 

   Tinha eu sessenta e quatro anos quando numa eterna tarde de verão que não parecia ter fim, decidi ir vasculhar e perscrutar o sótão sujo, feio e desorganizado que havia sido ignorado pelas últimas cinco décadas. Sabia que lá encontraria relíquias e posses minhas do passado, pérolas da minha juventude, memórias da minha infância…

   Comecei pelo início, onde tudo começou, no infantário que tão solenemente e de braços abertos me aceitou na sua família. Encontrei fotografias e desenhos dessa altura e só pensava “Ai tão fofo que eu era”. Eram estes os tempos de ouro, eram estes os tempos onde tudo e nada interessava, eram estes os tempos que eu inevitavelmente sentiria falta no futuro do quão inocentes e felizes eram…

   Mas eu vivia sem saber, passei anos e anos ignorando o que sentia, não falava com ninguém, esperava que um dia tudo se resolvesse sozinho. Quando dei por mim, já estava na minha adolescência, vi a mera quantidade de prémios, lembranças e conquistas e, num ápice, os meus olhos abriam e reluziam, como se tivesse viajado no tempo. Na verdade, nunca me havia ocorrido que tivesse tido uma juventude com tal qualidade e felicidade, o que antes era um jovem contente, saudável e inteligente, agora era só um saco de ossos e carne juntos, prontos para desistirem e avançar para a próxima vida

   Essa noite, enquanto dormia na minha cama esfarrapada, sonhava com os tempos antigos da minha adolescência, lembrava-me dos meus amores, lembrava-me das vezes que iria a outros países representar Portugal com a seleção nacional, lembrava-me das boas notas que tinha e das doces (ou amargas) professoras que me aturaram tantos anos. Lembrava-me de chegar a casa e poder abraçar os meus pais e mostrar-lhes o meu amor por eles (enquanto eram vivos). Subitamente, lembrava-me de tudo. Sentia e revivia estes momentos meio século depois, era como se tivesse renascido…

   Apenas no final deste episódio é que fiquei a saber o real significado e poder das memórias. Estas são uma ponte entre o passado e o presente, algo que nos torna viajantes no tempo, algo que nos lembra quem éramos, somos, e vamos ser…

 

 

                                                                                                   L.F. Camões 


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