1.ª Menção Honrosa Escalão B
Luís Figueiredo, n.º13, 9.º A - Escola Básica João de Barros
Uma Viagem no Tempo
Tinha eu sessenta e quatro anos quando numa eterna tarde de verão que
não parecia ter fim, decidi ir vasculhar e perscrutar o sótão sujo, feio e
desorganizado que havia sido ignorado pelas últimas cinco décadas. Sabia que lá
encontraria relíquias e posses minhas do passado, pérolas da minha juventude,
memórias da minha infância…
Comecei pelo início, onde tudo começou, no infantário que tão
solenemente e de braços abertos me aceitou na sua família. Encontrei
fotografias e desenhos dessa altura e só pensava “Ai tão fofo que eu era”. Eram
estes os tempos de ouro, eram estes os tempos onde tudo e nada interessava,
eram estes os tempos que eu inevitavelmente sentiria falta no futuro do quão
inocentes e felizes eram…
Mas eu vivia sem saber, passei anos e anos ignorando o que sentia, não
falava com ninguém, esperava que um dia tudo se resolvesse sozinho. Quando dei
por mim, já estava na minha adolescência, vi a mera quantidade de prémios,
lembranças e conquistas e, num ápice, os meus olhos abriam e reluziam, como se
tivesse viajado no tempo. Na verdade, nunca me havia ocorrido que tivesse tido
uma juventude com tal qualidade e felicidade, o que antes era um jovem
contente, saudável e inteligente, agora era só um saco de ossos e carne juntos,
prontos para desistirem e avançar para a próxima vida
Essa noite, enquanto dormia na minha cama esfarrapada, sonhava com os
tempos antigos da minha adolescência, lembrava-me dos meus amores, lembrava-me
das vezes que iria a outros países representar Portugal com a seleção nacional,
lembrava-me das boas notas que tinha e das doces (ou amargas) professoras que
me aturaram tantos anos. Lembrava-me de chegar a casa e poder abraçar os meus
pais e mostrar-lhes o meu amor por eles (enquanto eram vivos). Subitamente,
lembrava-me de tudo. Sentia e revivia estes momentos meio século depois, era
como se tivesse renascido…
Apenas no final deste episódio é que fiquei a saber o real significado e
poder das memórias. Estas são uma ponte entre o passado e o presente, algo que
nos torna viajantes no tempo, algo que nos lembra quem éramos, somos, e vamos
ser…
L.F.
Camões
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